Sexta-feira, 29 de Março

Casos de sífilis e gonorreia voltam a crescer em Goiânia

Publicado em 28/08/2017 às 08:34
Em Goiás

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) define a sífilis como uma doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum. A doença preocupa, pois em seu estágio mais avançado pode atingir o sistema neurológico e, quando atinge mulheres grávidas, pode contaminar a criança mesmo antes de nascer.

 

O Ministério da Saúde possui uma lista de doenças de notificação compulsória, ou seja, que devem ser informadas ao Sinan imediatamente em todas as suas ocorrências, em que a sífilis consta em duas formas: congênita e em gestantes.

 

A doença no tipo congênita é prioridade de combate do órgão, por isso todos os casos devem ser informados, para que haja um trabalho de tratamento que evite que crianças já nasçam contaminadas.

 

Mesmo com o trabalho de conscientização dos órgãos de saúde e com a facilidade em fazer o teste que detecta a doença, o número de casos no estágio secundário registrados em Goiânia passou de 10, em 2007, para 58 no ano passado, de acordo com o Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em Saúde.

 

A transmissão sexual da sífilis é maior quando está em seus estágios iniciais (primária, secundária e latente recente). Além disso, é nesses períodos, que as chances de transmissão vertical (quando passa da gestante para o feto) são maiores. A grande preocupação nesses casos, é o desenvolvimento de sífilis congênita, consequência da transmissão placentária ou durante o parto.

 

O boletim epidemiológico da sífilis em 2016, divulgado pela Coordenação Estadual de DST/Aids, informa que o número dos casos da doença em gestantes notificados ao Sinan teve um aumento de 300% entre aos anos de 2007 e 2016. A região goiana com índices mais elevados foi a central, com 27% das ocorrências.

 

Dados do Ministério da Saúde estimam que entre 70 e 100% das vezes em que mulheres infectadas com a Treponema pallidum engravidam e não tratam acontece a transmissão vertical. A coordenação reforça que “o diagnóstico precoce e tratamento oportuno dos casos são essenciais para evitar a transmissão vertical da sífilis”.

 

O monitoramento da sífilis congênita feita pela Secretaria de Saúde de Goiás dá conta de mais de 1400 casos da doença no período de 2000 a 2016. A pesquisa informa, ainda que as crianças mais afetadas são de mães que têm idades entre 20 e 29 anos de idade (52% dos casos). Esses números também são maiores em mulheres que frequentaram a escola por, no máximo, sete anos (24%).

 

A ginecologista e especialista em reprodução humana pela Universidade Federal de Goiás, Zelma Bernardes Costa, acredita que esse crescimento é resultado de uma preocupação maior com outras doenças sexualmente transmissíveis como a Aids, e por isso, a sífilis é negligenciada.

 

No que diz respeito à Aids, a professora afirma que a prevalência em gestantes, situação em que os casos devem ser informados ao Sinan, o número não chega a 1% no estado de Goiás e esse número se manteve nos últimos anos. Desse modo, a sífilis exigiria mais atenção imediata, já que os casos cresceram a nível mundial e nacional.

 

“Não há controle e pesquisa adequados em relação à doença”, explica a médica. Ela afirmou que nos últimos quatro anos a sífilis congênita voltou a ser comum em Goiás e só depois disso as pessoas começaram a se preocupar com a enfermidade. “É necessário realizar o exame em mulheres grávidas e em seus parceiros e em positivo para a bactéria, efetuar o tratamento adequado”, conclui.

 

Gonorreia

 

A gonorreia também é uma DST de origem bacteriana, causada pela Neisseria gonorrhoeae, ou gonococo. Sua proliferação também preocupa, já que, de acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em julho deste ano, essa bactéria está se tornando resistente aos antibióticos mais tradicionais e baratos.

 

Zelma Bernardes Costa explica que, desde 2007, o de Controle e prevenção de Doenças (CDC ) norte-americano cancelou o tratamento da gonorreia com o remédio mais tradicional, a Ciprofloxacina, pois a bactéria já teria desenvolvido formas mais resistentes que não são combatidas pelo medicamento que sempre foi a primeira opção de tratamento em caso de gonorreia.

 

“Essa modificação começou na costa leste dos Estados Unidos e se espalhou para a costa oeste. Como a região é muito visitada por brasileiros, essa forma de bactéria mais resistente já chegou ao Brasil e foi identificada em alguns casos da doença pelo país”, esclarece a médica.

 

No entanto, o Ministério da Saúde ainda recomenda o tratamento com Ciprofloxacina, que já não é eficaz em todos os casos de contágio, pois não abrange muitas variantes da bactéria. Zelma afirma que ela e outros médicos não concordam com a recomendação do órgão mas não há muitas opções de medicamentos.

 

A médica afirma ainda que houve um descuido por parte da população, mas que ainda faltam muitas informações sobre as DST’s. As doenças sexualmente transmissíveis ainda são tabus na sociedade e por isso existe uma resistência em buscar ajuda. “Falta espaço para falar de DST na mídia”, pontua.

 

Contudo, a melhor maneira de prevenção da sífilis, da gonorreia e das outras DST’s ainda é o uso de preservativos e o tratamento adequado das pessoas que foram contaminadas.

 

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