Sexta-feira, 29 de Março

Goiânia: Há 50 anos, mananciais tinham valor

Publicado em 31/12/2013 às 21:00
Goiânia

Os goianienses que têm mais de 40 ou 50 anos provavelmente guardam na memória aqueles bons tempos de criança na capital, quando as dezenas de mananciais eram limpas e os banhos à beira do rio, frequentes. Com mais de 90 mananciais e dezenas de córregos em sua área urbana, Goiânia certamente é uma das capitais brasileiras mais privilegiadas no quesito recursos hídricos. Mas nem por isso sua população usufrui da água como deveria.

Para o professor e doutor em Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG) Osmar Pires, a relação que as pessoas têm hoje com água é de fato bem diferente do que era há 50 anos. “À medida que a área urbana foi crescendo, o adensamento da população também, as pessoas foram se afastando dos recursos hídricos”, diz.

Pires admite que muito dessa proximidade que a população tinha com rios e córregos resultava da falta de opções de lazer. Mas ele diz que a poluição e a escassez dos recursos hídricos são os principais fatores que tornaram a relação das pessoas com a água muito mais pragmática. “Hoje, onde é o Parque Vaca Brava, por exemplo, havia centenas de minas d’agua que foram extintas pela ocupação urbana desenfreada. Isso inclusive com anuência do poder público e da própria Justiça, que não se preocupou com o meio ambiente e um desenvolvimento sustentável”, afirma.

Segundo Pires, Goiânia e outras grandes cidades já estão perto de viver um grave colapso em relação ao uso da água, assim como São Paulo. A situação é ocasionada pelo desequilíbrio ambiental nos centros urbanos. “A quantidade de água depende basicamente de três fatores: o regime de chuvas, cobertura vegetal e permeabilizarão de solo. O regime de chuva é global, portanto, pouco pode ser influenciado, mas nos demais elementos, se houver uma ingerência do ser humano, isso irá acarretar um desequilíbrio que pode, sim, acarretar em problemas com a água, seja a falta dela, ou o excesso como as enchentes e enxurradas”, explica o professor da UFG.

História

O HOJE percorreu algumas áreas que eram amplamente usadas não só para o abastecimento formal de água, mas também como lazer. Em uma rápida pesquisa histórica pôde se perceber como a expansão urbana desordenada da capital transformou radicalmente o meio ambiente e a relação das pessoas com os recursos naturais. O Lago das Rosas, no Setor Oeste, era, nos anos 50 e 60, um dos locais mais charmosos e frequentados para o lazer. Imagens cedidas pelo repórter fotográfico Hélio de Oliveira retratam bem como as pessoas usufruíam mais da água. O aposentado Hosmand Batista, 64, lembra bem dessa época. A falta de opções de lazer fazia daquele espaço um point para as famílias da capital. “Eu já nadei muito aqui. Era muito gostoso. Lembro do meu irmão mais velho fazer muito saltos na plataforma que fica no centro do lago.”

Mas hoje Batista, apesar de ainda frequentar o Lago das Rosas, lamenta o descuido com a área. “Hoje está muito diferente. Ninguém nada. Acho que a água está muito suja, e o local também está muito mal cuidado”, lamenta. O Córrego Anicuns, em 1958, era bem procurado pelas famílias da região oeste da capital para piqueniques e banhos. Mas, de acordo com a dona de casa Maria Messias, que há 30 anos mora bem próxima à margem do Anicuns, hoje não se pode fazer muita coisa. “Quando eu cheguei aqui, em 87, ainda era limpo. Meus filhos até brincavam. Mas hoje meus netos não aproveitam isso. O córrego está muito sujo, poluído”, lamenta.

Para o doutor em Ciências Ambientais Osmar Pires, apesar desse nítido distanciamento entre populações e recursos hídricos, hoje há uma importante vantagem em relação à questão da águas. Segundo ele, o nível de conscientização é bem maior. “As pessoas têm ciência que precisam muito da água.”

 

Do Hoje -Anderson Costa

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